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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

João Calvino–Pedobatismo Parte II

ASPECTOS EM QUE SE CONFIGURA A CORRELAÇÃO DO BATISMO COM A CIRCUNCISÃO

 

 
 

Quando o Senhor manda Abraão observar a circuncisão, ele prefacia que será o Deus dele e de sua semente, acrescentando que nele estavam a afluência e a suficiência de todas as coisas, para que Abraão tivesse consciência de que sua mão haveria de ser-lhe a fonte de todo bem [Gn 17.1-10]; palavras nas quais se contém a promessa da vida eterna, como as interpreta Cristo, daí formulando argumento para se comprovar a imortalidade e ressurreição dos fiéis. Ora, Cristo diz: “Ele não é Deus de mortos, mas de vivos” [Mt 22.32; Mc 12.27; Lc 20.38].

          Mas, uma vez que antes que o batismo fosse instituído o povo de Deus tinha em seu lugar a circuncisão, examinemos em que estes sinais diferem entre si e quais são suas semelhanças, do quê se faz patente qual é a analogia entre si. Quando o Senhor manda Abraão observar a circuncisão, ele prefacia que será o Deus dele e de sua semente, acrescentando que nele estavam a afluência e a suficiência de todas as coisas, para que Abraão tivesse consciência de que sua mão haveria de ser-lhe a fonte de todo bem [Gn 17.1-10]; palavras nas quais se contém a promessa da vida eterna, como as interpreta Cristo, daí formulando argumento para se comprovar a imortalidade e ressurreição dos fiéis. Ora, Cristo diz: “Ele não é Deus de mortos, mas de vivos” [Mt 22.32; Mc 12.27; Lc 20.38]. Por isso também Paulo, demonstrando aos efésios de que gênero de condenação o Senhor os libertara, daqui se conclui que não tinham a circuncisão; que não haviam sido admitidos ao pacto da circuncisão; conclui que estiveram sem Deus, sem esperança; que eram estranhos aos testamentos da promessa [Ef 2.12], todas as coisas que o próprio pacto compreendia. Mas que o primeiro acesso a Deus, o primeiro ingresso à vida imortal é a remissão dos pecados. Do quê se conclui que esta promessa da circuncisão corresponde à promessa do batismo quanto à nossa purificação. Depois o Senhor ordena a Abraão que andasse diante dele em sinceridade e inocência de coração [Gn 17.1], o que diz respeito à mortificação, ou regeneração. E para que ninguém nutre dúvida de que a circuncisão seja o sinal de mortificação, Moisés o expõe mais claramente em outro lugar [Dt 10.15, 16], quando exorta o povo de Israel a circuncidar ao Senhor o prepúcio do coração, uma vez que ele fora escolhido dentre todas as nações da terra para que fosse o povo de Deus. Visto que Deus, quando adota para si a posteridade de Abraão para seu povo, preceitua que ela fosse circuncidada, assim Moisés pronuncia ser necessário que seu coração fosse circuncidado, explicando assim qual é o verdadeiro sentido desta circuncisão carnal
[Dt 30.6]. Então, para que ninguém porfiasse de suas próprias forças, Moisés ensina que essa é obra da graça de Deus. Todas estas coisas são tantas vezes inculcadas pelos profetas que não é necessário aqui acumular muitos testemunhos, os quais são por toda parte profusos. Portanto, temos na circuncisão uma promessa espiritual outorgada aos patriarcas, como se dá em nosso batismo, uma vez que ela significa a remissão dos pecados e a mortificação da carne. Além disso, como já ensinamos ser Cristo, em quem reside uma e outra destas duas coisas, o fundamento do batismo, assim se faz evidente que ele o é também da circuncisão. Pois ele próprio é prometido a Abraão e nele a bênção de todas as nações [Gn 12.2, 3]. O sinal da circuncisão é adicionado para selar-se esta graça.

4. BATISMO E CIRCUNCISÃO COINCIDEM NO QUE DIZ RESPEITO À PROMESSA BÁSICA. À COISA REPRESENTADA (REGENERAÇÃO) E AO FUNDAMENTO EM QUE SE ASSENTAM, DIFERINDO SÓ NO RITO EXTERNO
    Já se pode ver, sem nenhuma dificuldade, nestes dois sinais, o batismo e a circuncisão, o que é semelhante ou o que é diverso. A promessa em que afirmamos consistir a virtude dos sinais é uma e a mesma em ambos, isto é, a promessa do favor paterno de Deus, da remissão dos pecados, da vida eterna. Então, a coisa figurada é também uma e a mesma, a saber, a regeneração. O fundamento em que se apóia o cumprimento destas coisas é um e o mesmo em ambos: Cristo. Por isso, não existe nenhuma diferença no mistério interior, no que consiste toda a força e propriedade dos sacramentos. A diferença que resta, essa consiste na cerimônia externa, que é porção mínima, quando a parte mais importante depende da promessa e da coisa significada. Desse modo é lícito concluir que tudo quanto convém à circuncisão, excetuada a diferença da cerimônia visível, pertence igualmente ao batismo. A regra do Apóstolo nos conduz pela mão a esta dedução e comparação, mercê da qual se deve medir e pesar toda a interpretação da Escritura segundo a analogia da fé [Rm 12.3, 6]. E neste aspecto, seguramente, a verdade nos é oferecida quase que tangivelmente. Ora, exatamente como a circuncisão, visto que era para os judeus uma como que senha pela qual se se assegurava ainda mais que foram adotados por povo e família de Deus, e também eles próprios, por sua vez, professavam alistar-se com Deus, eralhes o ingresso inicial na lgreja, agora também, mediante o batismo, somos iniciados em relação a Deus para sermos contados em seu povo e nós, pessoal e reciprocamente, juremos a seu nome. Portanto, parece fora de dúvida que o batismo foi introduzido no lugar da circuncisão e tem em vista as mesmas funções.

Institutas da Religião Cristã – Pg 312 - 314

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